2008/01/18

HINO AOS NÓMADAS

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.
E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa,foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem?", perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: "Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além..." era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim. Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora.O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas,lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração : O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada. Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos: Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção. Confesso, senti-me velho... Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem,por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft. Óbvio,nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de "terno" nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse. Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas,porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração "rasca"... Nós éramos mais a geração "à rasca", isso sim. Sempre à rasca de dinheiro,sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos. Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta. Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos.Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada."(Nota: ...os chocolates n eram gamados no "Pingo Doce"... Ainda se chamava "Pão de Açúcar"!!!)

7 comentários:

ninita disse...

Palavras para quê???
Fantástico...............

Jane disse...

Então e o "Marco" que corria mundo com o seu macaquito à procura da mãe (que nunca encontrou), e a "Pipi das meias altas", e os "Vickings", e a "Heidi", e o programa do Vasco Granja - lembram-se?!? ou já sou muito cota?!? Hi Hi Hi
Enfim, bons tempos os nossos - agora os desenhos são só porrada para cima.

"Ó tempo ... volta p'ra trás ...."

Rui Santos disse...

Acho que o texto não é de tua autoria e penso que já o tinha lido anteriormente, mas prendeu-me a atenção da primeira à última palavra.
Fazendo minhas as palavras das nossas amigas, às quais saúdo o seu regresso, “palavras para quê?” E sem dúvida que apetece dizer, “Ó tempo ... volta p'ra trás ...."
Quando me ponho a pensar nisto, ainda me dá vontade de ir criar os meus filhos, se um dia os tiver, para uma aldeia do interior do nosso lindo Portugal, para que saibam dar valor ao que é a amizade, à natureza, à humildade.
Se tivesse uma máquina do tempo, na qual pudesse escolher uma época e um local onde passar a minha infância novamente, seria certamente a época em que fomos crianças e adolescentes, com os mesmos amigos e no mesmo local. Imaginem só o que seria hoje uma dúzia de manos a fazer uma futebolada na nossa rua ou a jogar à rabia no largo da Doce Creme. Certamente tínhamos de andar a fintar os carros.
Saudações

pedro alvim disse...

este texto é do Nuno Markl.recebi por e-mail de uma prima e nao resisti a colocá-lo a todos os Nómadas. sotnas,quando tiveres a máquina do tempo a funcionar deixa-me dar uma volta...

Reminiscências da Mente disse...

E o Bana & Flapi, o urso Jaqui? E ainda mais antigo, o Professor Baltazar, e o Franjinhas? E os imperdíveis Jogos Sem Fronteiras? E quando o Festival da Canção ainda era o marco televisivo mais importante do ano? E saltar as fogueiras nos Santos Populares? Que saudades...

Kid disse...

Também já tinha lido isto. Nostalgias...
Eu não perdia o Conan, o rapaz do futuro.

Anónimo disse...

E o MacGyver? E o Conde Pátula, o Drácula mais verde de todos os patos? E o Dartacão? Os Jogos Sem Fronteiras eram um espectáculo, nunca ouvi falar tanto de Malta como nessa altura e eu ainda era um Piolho nesse tempo. mas lembro-me perfeitamente da quantidade de esferovite a boiar na água e o ppl todo com fatiotas enormes a escorregar. Era a loucura