2007/10/26

Qualquer coisa em bruto

The Verse and the Curse

Verse

Deus, caríssimo,
Dói-me o nariz.
Aqui na montanha já nem um sinal de gente viva.
Cheira a morte e a lixo, é o cheiro que a Natureza liberta.
Um ar impuro que se cola às fossas nasais e, quando o vento está favorável,
Dobram-se as plantas medicinais sob a boca dos animais de boca aberta.

É um horror esta montanha verde e branca onde te subo sem saber porquê.
Sei que foi aqui que nasceste e também sei que aqui morreste mas não é isso que interessa.

Os pinheiros e os ares são desculpas para me dares
O Real Sentido da Vida.
Cheirar e estranhar para self-reconhecer.

Se já me encontrei?
Tantas vezes quantas as que me perdi.

E tu, Deus, na montanha onde te escondes?
No cume? Debaixo da neve? Na cabana de lenhador? (nem a cabana eu vi...)
No céu? Nas árvores?
Ou neste véu da cor da dor?

Este é só meu e hoje aqui o largo.

Estou farta de subir.

Curse

Fugi e nunca mais te vi.

Sou vento sou a brisa mais quente vou voando por aí...
Embalo os pássaros, encosto-me às flores, sou mil e duas cores.
Sigo profetas. Sintetizo e sigo metas.
Que encanto não teres compreendido...
Que encanto não termos sido...
Sou mágica e livre porque o quiseste,
Grito-te ao ouvido que me perdeste.

Sou mais e sigo.

Kurva 25 Outubro 2007

Um bom fim-de-semana para todos!! Aproveitem ao máximo e divirtam-se. Cuidado com as gripes que já andam aí... Atchim! Heheh heh

Um abraço da Kurva.

3 comentários:

Rui Santos disse...

Muito bem, gostei muito.
Como assinaste com o teu "pseudónimo", deduzo que estes poemas sejam mesmo de tua autoria.
Interpreto-os como um jogo de palavras que nos deixam a pensar, no que estará por detrás dos cenários descritos.
De qualquer das formas não queria estar nessa montanha.
Saudações

Anónimo disse...

Sim, é da minha autoria, da minha nova fase criativa: Atingir a imperfeição na escrita e criar o supra-sumo da merdice. Mas ainda estou muito longe...
Eu também não queria nada estar naquela montanha!... Por isso dei asas à minha personagem e ela libertou-se das visitas semanais.

E tu, mais uma vez, interpretaste-o da melhor maneira. Cada um vê a montanha que quer. É o mais democrático possível.

Rui Santos disse...

Eu pessoalmente, gosto muito da forma de escrita indirecta através de jogos de palavras enigmáticos. Por isso gostei muito do que escreveste. Tal como disse leva-nos a tentar descobrir os sentimentos que estão por detrás das palavras.
Aquilo que conseguimos sem esforço, nunca terá tanto valor, como aquilo que nos esforçámos para obter, é o que eu penso.

Quanto à interpretação que eu dou de uma das frases do teu poema (e já que há muito tempo não se fala disto aqui no tasco), “É um horror esta montanha verde e branca onde te subo sem saber porquê”, imagino que foi escrita após subires a escadaria do estádio Alvalade XXI, Eh! Eh! Eh! Para cheirar a lixo e aquelas coisas todas, só pode ser. Eh! Eh!
Bem mas quem ri por último ri melhor e afinal nossa senhora não fez mais milagres e eu fiquei engasgado com duas espinhas dos “carrapauss” de Setúbal.